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São Francisco e Tohoku

Os sismos de magnitude muito elevada fazem com que o inimaginável aconteça. Acarretam danos e devastação. Mas também nos ensinam. E é nosso dever aprender com eles, para podermos estar preparados para o seguinte.  

 

Sismo de São Francisco, 18 de abril de 1906  

No início do século XX, São Francisco era a 9.a maior cidade dos Estados Unidos e a maior da costa oeste, com uma população de 410 000 habitantes. Era a "Porta para o Pacífico". Ao início da manhã do dia 18 de abril de 1906, a Área da Baía de São Francisco foi fortemente abalada por um sismo com uma magnitude estimada de 7,9, precedido em 20 a 25 segundos de um forte sismo premonitório e seguido de várias réplicas. Morreram mais de 3000 pessoas e mais de 80 % da cidade foi destruída.  

A terrível destruição de São Francisco deveu-se, em grande parte, aos incêndios que deflagraram após o sismo. Os incêndios foram inicialmente causados pela rutura de condutas de gás, mas pioraram quando os bombeiros dinamitaram edifícios, na tentativa de criar barreiras corta-fogo. Em três dias, o fogo consumiu 25 000 edifícios, destruindo 490 quarteirões da cidade. Na altura, os seguros normais protegiam as casas contra incêndios, mas não contra danos por sismos, o que levou algumas pessoas a deixarem que os incêndios terminassem o que o sismo tinha começado.  

As tropas federais foram rapidamente mobilizadas para a cidade, na sequência do sismo, para manter a ordem, em resposta a distúrbios e pilhagens. Apesar da destruição generalizada, o povo de São Francisco não perdeu o espírito e depressa se empenhou no planeamento e na reconstrução. Muito embora tenha sido reconstruída rapidamente, a cidade perdeu comércio, indústria e população para Los Angeles, que floresceu durante o século XX. 

A sismologia, em 1906, era ainda incipiente. Estavam a ser desenvolvidos em todo o mundo os primeiros sismómetros, os quais permitiam uma interpretação científica das vibrações do solo. Até então, a explicação mais comummente aceite para os sismos era que fluidos, que se movimentavam sob a superfície terrestre, faziam com que o solo tremesse, causando por vezes ruturas à superfície. Após o sismo de 1906, os geólogos fizeram um levantamento exaustivo da Área da Baía e mapearam deslocamentos transversais na que é agora conhecida como falha de Santo André. Com base nas observações, Henry Reid sugeriu que o movimento do solo se devia na verdade a um movimento transversal súbito numa falha, previamente deformada de forma elástica, armazenando energia. Conhecida como a Teoria do Ressalto Elástico, continua a ser atualmente um dos pilares da sismologia. 

 

Sismo de Tohoku, 11 de março de 2011   

Este violento sismo, de magnitude 9,1, abalou todo o Japão de mais do que uma forma. Foi o sismo mais forte no Japão alguma vez registado por sismómetros e o quarto mais forte do mundo desde 1900, ano em que começou a haver registos. O epicentro localizou-se ao largo da costa leste do Japão e todos no país sabiam o que isso significava: em pouco tempo, o litoral seria atingido por um tsunami. Quando foi dado o alerta, os habitantes das zonas costeiras sabiam que tinham de fugir para locais elevados.  

As pessoas fizeram o que podiam. Houve quem subisse para o cimo dos edifícios, para abrigos verticais, e quem fugisse da costa para o interior, para zonas de concentração seguras pré-definidas. Ao atingir terra, o tsunami arrasou edifícios inteiros, deixando automóveis, paredes, madeiras e outros destroços a flutuar nas suas águas. Muitos quebra-mares foram inúteis. Nem mesmo um dos mais recentes, em Kamaishi, foi suficiente para deter as águas. A cidade de Miyako foi a que sofreu o maior impacto do tsunami, tendo a inundação em terra atingido um máximo de 38 metros acima do nível do mar. Imagine só: o equivalente a um prédio de 12 andares. Por todo o Japão, houve cidades costeiras devastadas pelas águas que as invadiram, arrastando tudo consigo. As ondas também atingiram outras zonas do litoral, por todo o Oceano Pacífico. Até a costa do Chile, a 17 000 km do epicentro, foi atingida por ondas com mais de dois metros de altura.  

Os danos causados pelo tsunami foram muito piores do que os causados pelo próprio terramoto. O tsunami varreu o território japonês, provocando 15 896 mortos e 6157 feridos. Até à data, continuam desaparecidas 2537 pessoas. Este foi também o desastre natural mais dispendioso da história mundial, com um custo estimado acima dos 250 mil milhões de euros.  

A Central Nuclear de Fukushima tinha sido construída na costa leste do Japão. Era uma central antiga, mas ainda funcionava. O sismo provocou um corte de energia nas três unidades de emergência que existiam na central nuclear. Quando o solo parou de tremer, os geradores de emergência, concebidos para assegurar que os sistemas de refrigeração continuassem a arrefecer os reatores, foram ativados. Mas, quando o tsunami atingiu a central, o combustível existente nos geradores de segurança foi derramado, tornando impossíveis as operações de arrefecimento. Os reatores começaram a aquecer, desencadeando explosões de hidrogénio e expondo ao ar as piscinas de combustível nuclear usado. Ainda injetaram água do mar num dos reatores para o arrefecer, mas as explosões continuaram a decorrer por vários dias. Dos seis reatores da central nuclear, quatro sofreram danos graves a muito graves.  

Mesmo vários anos após a catástrofe, a população de Fukushima continua a não poder viver nas suas casas. 

Sabia que...?

  1. É sabido que os sismos podem ter efeitos devastadores. Por vezes, fazem com que cidades inteiras sejam abandonadas. E podem até mudar o curso da história de uma região ou de um país. 
  2. O movimento sísmico do solo pode ser extremamente forte. Por vezes, o solo treme com acelerações superiores a g — a aceleração da gravidade. Tal resulta da libertação de uma grande quantidade de energia num período de tempo muito curto. 
  3. Os sismos podem desencadear outros riscos igualmente — se não mais — destrutivos, como incêndios, tsunamis, deslizamentos de terras, liquefação, etc. 
  4. A preparação dos diferentes países para os riscos sísmicos tem um impacto enorme nos danos e nas vítimas resultantes dos sismos. 
  5. Do ponto de vista científico, aprende-se muito com os raros sismos grandes. É nosso dever assegurar que aprendemos as lições e lhes damos bom uso, de forma a mitigar futuros riscos sísmicos. 
  6. Uma vez que não podemos controlar o perigo sísmico e que as exigências sociais determinam a exposição, a melhor forma de uma sociedade reduzir o risco sísmico é através de construção segura e preparação, diminuindo a vulnerabilidade. 
  7. O sismo de São Francisco rompeu uma falha de desligamento de cerca de 480 km de comprimento. Quase o comprimento de Portugal continental, de norte a sul! Numa falha de desligamento, os blocos deslizam ao longo um do outro, num plano quase vertical. O maior desligamento da falha foi estimado em 8,5 metros. Se este tipo de sismo ocorrer no fundo do mar, o tsunami gerado é muito menor do que seria se a falha fosse normal ou inversa. 
  8. O sismo de Tōhoku foi tão forte que deslocou a Terra do seu eixo, em 10 a 25 cm, e fez com que rodasse um pouco mais depressa, encurtando a duração do dia em cerca de 1,8 microssegundos. 
  9. O sismo de Tōhoku rompeu um segmento da zona de subducção entre a placa do Pacífico (a leste) e a microplaca de Okhotsk com uma falha inversa. Estima-se que esta falha tenha 500 x 200 km2 e que o deslizamento entre os dois blocos possa ter ultrapassado os 40 metros nalgumas zonas, mais do que um edifício de 12 andares. As falhas inversas rasas são muito eficazes a gerar tsunamis. 

Incêndios consumindo a baixa de São Francisco, vistos de Twin Peaks para Eureka Valley, com a Market Street ao centro.

Área destruída pelos incêndios. Muitas pessoas ficaram encurraladas entre a água, nos 3 lados da península de São Francisco, e a frente do incêndio. Uma evacuação em massa pela água permitiu salvar milhares.

Source: Boatwright, J., & Bundock, H. (2008). The distribution of modified Mercalli intensity in the 18 April 1906 San Francisco earthquake. Bulletin of the Seismological Society of America, 98(2), 890-900.

Nos sismos fortes, a gravidade do movimento do solo é estimada em intensidade macrossísmica. A figura mostra a intensidade, na Escala de Mercalli Modificada, do sismo de São Francisco de 1906. Com uma intensidade superior a V, ocorrem danos em edifícios. Com uma intensidade de VIII (grave), ocorrem danos consideráveis em edifícios vulgares, com colapso parcial de alguns. Os danos são avultados em estruturas de construção deficiente. 

O sismo de São Francisco foi gerado pelo deslizamento repentino de um setor de cerca de 480 km de comprimento da falha de Santo André. O movimento contínuo desta falha ao longo do tempo geológico desloca rios, gera relevos e cria caraterísticas geográficas que podem ser avistadas do ar e até de satélites no espaço.

Source: Reality of the tsunami disaster and the aftermath of the 2011 Tohoku earthquake and tsunami.jpg and the outbreak of the unprecedented Great East Japan Earthquake and tsunami.jpg
Source: Reality of the tsunami disaster and the aftermath of the 2011 Tohoku earthquake and tsunami.jpg and the outbreak of the unprecedented Great East Japan Earthquake and tsunami.jpg

Destruição causada pelo sismo de Tōhoku de 2011 e pelo subsequente tsunami.

(Esquerda) Mapa do Japão mostrando o epicentro do grande sismo de Tōhoku de 2011 e das suas réplicas até 14 de março de 2011 às 11:20. Os círculos aumentam com a magnitude e a cor indica a data (verde-claro: 11 de março; amarelo: 12 de março; laranja: 13 de março; vermelho: 14 de março). (Direita) Intensidades sísmicas registadas em todo o Japão durante o sismo de Tōhoku.

A propagação do tsunami de Tōhoku de 2011 é mostrada aqui através da distribuição de energia pelo Pacífico (NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration, EUA).

Source: https://www.dailymail.co.uk/news/article-1365318/Japan-earthquake-tsunami-The-moment-mother-nature-engulfed-nation.html

As ondas de tsunami geradas pelo sismo de Tōhoku de 2011 começam a inundar a costa japonesa.

Source: https://earthquake.usgs.gov/earthquakes/eventpage/official20110311054624120_30/executive

Após grandes sismos, a USGS (United States Geological Survey, EUA) produz cartazes que resumem e ilustram a tectónica e a sismologia da região, como o criado para o evento de Tōhoku.

O sismo de Tōhoku rompeu um segmento da zona de subducção entre a placa do Pacífico (a leste) e a microplaca de Okhotsk (a oeste).

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